Por um jornalismo fora da lógica dos manuais
Crisis Brasil foi concebida como uma versão brasileira da mítica Crisis, uma revista de cultura e política dirigida pelo jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano na Argentina, entre 1973 e 1976. Lançada por Marcos Faerman de maneira independente, em 1989, quando o ciclo da imprensa alternativa dos anos 1970 já havia terminado, a revista é um manifesto pelo jornalismo feito com profundidade e paixão.
Em seu primeiro editorial, Marcos faz a defesa da reportagem, em contraposição ao jornalismo dos textos curtos, padronizados e sem investigação:
O grande jornalismo, hoje, é o dos jornais com o El País, da Espanha, do Libération e ainda o do Le Monde. O jornalismo da grande reportagem, da crítica, da investigação, da narrativa bem construída, que não pode ser regulada pelos manuais. John Reed, em suas reportagens que fizeram história, não escrevia por manual. Zapata, Pancho Villa, ou as cenas das grandes transformações da história caberiam num manual? Hemingway não escreveu as histórias da Espanha por manual. Nem o francês Albert Londres, ou Camus, ou as reportagens de Sartre, ou Eduardo Galeano num trem da Bolívia, ou Garcia Marques e seus náufragos cabem em manuais. A mesmice do texto mata a emoção da história. Nosso jornalismo não caberá em manuais, em regras bem comportadas, ou em reportagens pré-fabricadas, em módulos de tédio. **Marcos Faerman, Crisis número 01 (editora Obrart, 1989)